[Resenha] The Fertile Void – Gestalt Coaching at Work

LEARY-JOYCE, John. The Fertile Void – Gestalt Coaching at Work. St Albans, Great Britain: AOEC Press, 2014.

Resenha por  Liana Gus Gomes

Já com título de seu  recente livro ( “O Vazio Fértil “) o autor  nos apresenta um dos princípios de seu trabalho, ou seja, o paradoxo no qual alguma coisa ou alguém pode estar simultaneamente “cheio e vazio “. Por sua formação em Gestalt, John se propõe neste livro a trabalhar nestas abrangentes polaridades como  por exemplo, “para falar e ser ouvido, precisamos da quietude; para ser enérgico, precisamos de calma; para estarmos completos,  precisamos da vivência de estarmos vazios”. Entende estes conceitos não como excludentes ( ou um ou outro ), mas sim como complementares ( um e outro ). Desta forma o autor acredita que, se acreditamos no processo e adotamos uma postura de “não saber“, podemos criar um espaço para que algo novo possa emergir.

O livro é composto de três grandes blocos divididos em capítulos. Na primeira parte são apresentados os fundamentos da Gestalt e sua aplicação no Coaching.

No segundo, o foco é nas formas que podemos usar a abordagem da Gestalt em nossa prática do Coaching.

Por fim, John nos apresenta os dois elementos considerados essenciais para um Coach  com esta abordagem, que são a Assinatura Presencial e a Supervisão constante.

Inicia nos apresentando um pouco da história da Gestalt. A Gestalt terapia surgiu da Gestalt Psicologia  e sua abordagem teve origem nos Estados Unidos entre os anos 1950 e 1960. Teve forte influência da Psicologia Humanista daquele momento. A origem de seu nome é germânica e, traduzida, significa “todo, completo”.

Partindo deste princípio, a abordagem da Gestalt vê a pessoa como um todo, ou seja, composta pelo corpo, sentimentos, intelecto e imaginação. Da mesma forma esta pessoa está indissociavelmente ligada em um ambiente “total”, afetando e sendo afetado pelo contexto onde estão inseridos.

Salienta que em processos de Coaching, o Coach é a grande “ferramenta” de trabalho. A qualidade dos processos reside em “ser” e não em “fazer”. O foco é na ampliação da consciência, do que está acontecendo no aqui e no agora entre o Coach e o Coachee.

Para tanto, ambos devem estar totalmente presentes e vivendo plenamente o momento, ao invés de estarem “pensando” sobre o que poderia ter sido feito ou qual seriam os próximos passos. Segundo o autor, a Gestalt é uma atitude ancorada em com um forte arcabouço teórico.

Apresenta, a seguir, os 5 princípios básicos:

  1. Consciência
  2. Ênfase no como fazemos mais do que no porque fazemos
  3. Estar presente no aqui e agora
  4. Qualidade da relação
  5. Natureza paradoxal da mudança

E acrescenta trazendo que a abordagem da Gestalt seria mais adequada a processos de Coaching de Desenvolvimento do que processos de Coaching voltados a Performance.

No capítulo dois o autor apresenta o conceito de Consciência. Segundo John o objetivo principal do Coach é contribuir para que seus Coachees se tornem mais conscientes de quem são, pois desta forma podem lidar e se adaptar a novas experiências.  Nos apresenta os dois tipos de Consciência segundo a Gestalt:

  • Aberta, indireta : sensitiva e sensorial, aberta ao que vier, não envolve valores
  • Ativa, direta : focada, avaliativa, estruturada em direção a algo específico, baseada em valores e preferências

Finalizando o capítulo apresenta as “Quatro Zonas da Consciência”, modelo de entendimento do funcionamento humano no qual a nossa percepção de mundo se dá através de nossos cinco sentidos (tato, audição, gustação, olfato e visão ), gerando uma reação física e emocional que, se combinada com uma resposta cognitiva, pode levar a uma mudança comportamental.

Nos capítulos seguintes deste primeiro bloco o autor apresenta mais alguns conceitos importantes da abordagem da Gestalt, tais como “The Flow of Continuos Experience “, definido como um modelo dinâmico que descreve os estágios de experiência do indivíduo na formação da figura/fundo. Através deste, o Coach poderá ter um “modelo” que contribuirá para o desenvolvimento da Consciência durante o processo de Coaching.

Finaliza este bloco, explicando a Natureza dos processos de Mudança para a Gestalt. Parte da premissa que “a mudança ocorre quando nos tornamos o que somos e não quando tentamos ser o que não somos “.

Para navegar em processos de mudança, aponta quatro princípios interconectados:

  1. Responsabilidade e Escolha : não temos controle pelos eventos externos o sobre o que acontece conosco, mas temos o controle sobre como o percebemos e reagimos em relação a eles
  2. Dar sentido : como damos sentido as coisas
  3. Propósito : identificar consciente ou inconscientemente porque fazemos o que estamos fazendo
  4. Metas e Objetivos: como atingimos as metas e objetivos, dando sentido as situações vivenciadas

A Gestalt acredita:

  • Na experiência do momento e que a mudança só pode ocorrer no aqui e agora
  • Que a experiência passada auxilia no entendimento do presente e nos guia para decisões sobre o futuro ( usa de insights e entendimentos de eventos passados como modeladores de experiências e relações no presente )
  • Que o trabalho nos “bloqueios” no aqui e agora são fundamentais para que um futuro desconhecido possa emergir

No segundo bloco, o autor apresenta como podemos usar a abordagem da Gestalt em processos de Coaching.

Inicia com o conceito de ”Experimentação Ativa”, vivência holística que envolve pensamentos, comportamentos e sentimentos. A Gestalt foca inicialmente na experiência concreta de envolver os sentimentos para fazer o contato com o mundo. A Experimentação não se refere ao exercício de ser diferente e sim à mudança emocional, cognitiva e comportamental no momento. Coach e Coachee são parceiros neste processo e onde o Coach não tem julgamento sobre os resultados.

No seguimento nos é apresentado o “Bodywork”, ou seja, o trabalho corporal envolvido nesta abordagem. O foco não é gerar relaxamento ou melhor postura, e sim usar o corpo como veículo para endereçar e expandir a consciência e inteligência emocional. Para tanto o Coach trabalha com:

  • Respiração
  • Voz
  • Movimento
  • Toque

Da mesma forma, nos apresenta a “Somatic Resonance” ,isto é, usar seu corpo como um “instrumento” do processo. Coloca que há uma conexão entre o Coach e Coachee  e que a energia presente do outro pode influenciar ambos. Este processo requer por parte do Coach:

  • Consciência sobre suas reações somáticas
  • Abertura e Curiosidade
  • Não julgamento

Finaliza este segundo bloco com um Capítulo sobre Coaching de Grupos e Equipe, onde diferencia os dois conceitos e exemplifica como os princípios apresentados anteriormente se aplicam nestes processos.

No último bloco John apresenta o conceito de “Assinatura Presencial”, elemento essencial ao Coach da Gestalt. Inicia definindo Presença como a habilidade de se comunicar com confiança e carisma. Significa trazer ao processo você mesmo como Coach: seus valores, paixões e criatividade. Na Gestalt estar Presente é central.

Já Assinatura Presencial é a expressão de si mesmo como Coach, gerando uma comunicação autêntica com o outro, criando um diálogo genuíno. Ser um Coach envolve trazer você mesmo ao processo. Desta forma na Gestalt, o Coach não somente tem uma Assinatura Presencial. Ele É a sua Assinatura Presencial.

Apresenta os cinco “C” da Assinatura Presencial:

  1. Contexto do Relacionamento
  2. Estilo de Comunicação
  3. Capacidade e Credibilidade
  4. Confiança em Si
  5. Centrado/Estar presente

Finaliza o livro com um capítulo sobre Supervisão sob a ótica da abordagem da Gestalt.

Define que a Supervisão é o local onde os Coaches podem rever seu trabalho, desenvolver-se pessoal e profissionalmente e onde questões éticas podem ser discutidas.

Apresenta o “Seven-eyed Model “de Supervisão (modelo alinhado com o do Peter Hawkins) composto por sete áreas:

  1. O mundo do cliente ( coachee ) : seu contexto – história, pensamentos, experiências, desejos, medos )
  2. As intervenções do Coach : explorar e ampliar o leque de opções e intervenções
  3. A relação entre Coach e Coachee : desenvolver uma visão “ de fora” e mais clara sobre esta relação que está sendo co-criada pelo Coach e Coachee
  4. O Coach : o que evoca no Coach o trabalho com este Coachee
  5. Processos paralelos : o que na relação Coach e Supervisor pode estar sendo reproduzido da relação Coach e Coachee
  6. O papel, responsabilidades e auto-reflexão do Coach: o Supervisor tem três papéis – Coach, Mentor e Orientador
  7. O Contexto mais amplo : considerar os contextos do Coachee, do Coach e do Supervisor; além do contexto econômico, cultural e político.